Sandra Reis

Sandra Reis

Quem sou eu

Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Minha vida não é uma linha reta, é cheia de curvas. Feita de encontros e reencontros. Gosto das palavras simples e humanas. Meu coração se expressa pelas mãos. Quando amo, me entrego. Sou toda feita de eros. Tantas pessoas e, no entanto, apenas esta pessoa. Meu Deus não tem religião. Ele está presente em todos os seres humanos, em toda a natureza. E todas as feridas cicatrizadas me ajudam a compreender o eterno.

sábado, 4 de agosto de 2007

Pavaroti - Sandra Reis



Não creio que tenha existido um amor tão puro quanto aquele. Já conheci
muitos deles. Amores desinteressados, inesquecíveis. Mas igual ao
amor de Inalda e Pavaroti não existiu.
E foi em meio ao barulho dos carros e da poeira do asfalto quente
de copacabana que o pequeno aprendiz de cantor chegou para ficar.
Ele teve toda a liberdade que precisava: um quarto só pra ele.
Um dia, quando estava na janela tomando seu banho de sol, um pequeno pardal
se aproximou. Conversaram muito. Pavaroti do lado de dentro e o
pardal do lado de fora.
A coisa mais importante na vida é o processo de criação. E ouvindo o
pardal piar,
Pavaroti cantou pela primeira vez.
A melodia era tão linda, que os vizinhos vieram conhecer o
maravilhoso artista, e qual não foi a surpresa, ao se depararem com um
pequeno canário belga cantando bem encima de um banquinho.
Ah sim!, era uma linda ave! E este era o modo de declarar sua afeição
a quem tanto carinho lhe dedicava: Inalda.
Adorava o suco de agrião e de aveia que ela fazia.
As visitas de que ele mais gostava eram de crianças, especialmente bebês.
Costumava pousar na cabeça deles, com o devido consentimento.
Pavaroti ocupava um lugar especial na vida de Inalda.
Entre eles havia um amor incondicional.
Um dia, ele acordou tremendo muito. Ela o colocou perto de uma lâmpada para
que se aquecesse e deu-lhe água com açúcar. Mas ele não estava bem. Chamou
o veterinário. E fez o que pôde...
Inalda sabia que seu parceiro de estimação não era mais jovem, já
tinha dez anos.
Subitamente, Pavaroti deu um último pio e morreu.

Algumas pessoas são escolhidas para cuidar de um determinado animal,
ajudando-o na sua evolução de alma grupal à individualização.
Portanto, os laços
que temos com o reino animal são profundos. Os animais são nossos amigos
e têm muito a nos ensinar.
Pavaroti deixou uma saudade imensa.
A última vez que falei com Inalda, ela chorava e ria ao mesmo
tempo. Chorava de saudade e ria lembrando-se das peraltices que ele
aprontava . E dizia:
-- Eu deveria ter tirado uma foto aquele dia... Eu não podia imaginar
que ele fôsse morrer tão rápidamente!
Mas nós duas sabemos que ele está vivo, em cada canto daquela casa e em
nossos corações.

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