Sandra Reis

Sandra Reis

Quem sou eu

Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
Minha vida não é uma linha reta, é cheia de curvas. Feita de encontros e reencontros. Gosto das palavras simples e humanas. Meu coração se expressa pelas mãos. Quando amo, me entrego. Sou toda feita de eros. Tantas pessoas e, no entanto, apenas esta pessoa. Meu Deus não tem religião. Ele está presente em todos os seres humanos, em toda a natureza. E todas as feridas cicatrizadas me ajudam a compreender o eterno.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

CICLOS

Pudera, com um gesto,
reter o tempo
e o instante
que passou.

Pudera o amor,
exercício que não cansa,
soprar o vento
da travessia.

Pudera o tempo
aplacar a dor
do que o desejo
não mais alcança.

Porque o amanhã é sonho,
é mão que arma o arco,
mira o alvo,
solta a flecha e lança.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Discernimento

Tudo o que queremos
precede no pensamento:
o bem ou o mal
conduzem ao movimento.

Moldamos, em silêncio,
todo acontecimento
que se anuncia em alegria
ou lamento.

Assim, a forma nasce no antes
e planta ali seu alicerce.
Vigie, portanto, o seu lance,
pois tanto o bem quanto o mal,
crescem.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

As Cores da Natureza

Esculpo na areia os meus versos
libertos onde o vento conduz.
A onda os faz submersos.
tão lindo este oceano azul.

O silêncio na altura emana.
Soberbas colinas e montanhas
onde a bruma, lenta, se desmancha.
tão linda esta calmaria branca.

Passo por árvores altas e calmas.
O aroma das folhas é um deleite,
que induzem paz em minh'alma.
São lindas porque são verdes.

O espirito da Natureza tinge
a grande tela, noite e dia.
E a magia que vibra no ar
encanta a sua vida e a minha.

domingo, 29 de novembro de 2009

Receita

Como esquecer uma paixão,
libertar a alma nua
presa em sua solidão?

Há que apagar
as palavras insanas,
refazer a história,

o que está distante,
e que descansa
na memória.

Há que desfazer o encanto,
exorcisar do corpo
a saudade que aflora.

Negar a chama que persiste,
se acaso arde
como outrora.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Um lugar chamado Poesia

Há ninhos de estrelas nos versos
A fantasia corre na rua.
O que ilumina este Universo
são almas muito puras.

Na entrada tem um cartaz,
que diz: “entre, venha sonhar".
Voe livre, cultive palavras,
sinta a energia no ar!”

Toque as nuvens. Tudo é possivel.
Alí não tem amanhã.
Verás uma força existindo.
A inspiração nasce com afâ.

As frases são tantas e se espalham
O excesso segue viagem...
A fonte é a imaginação.
Não há liberdade sem arte.

Já quero voltar para lá.
Vem também, convido você.
Quero escrever e atingir
o coração de quem me lê.

domingo, 25 de outubro de 2009

Epifania

Um efêmero sussurro
toca meu pensamento.
Nada é mais real
neste momento.

O invisivel se aproxima
e eu o chamo para dentro.
Me ensina, me orienta,
me empurra para o centro.

Serena, incide tranquila
a luz, o insight subliminar.
A voz de alguém me guia:
meu outro eu a se expressar.

sábado, 1 de agosto de 2009

A viagem



Oh! Tristeza me desculpe!
Estou de malas prontas,
hoje a poesia veio ao meu encontro,
já raiou o dia, vamos viajar!

Vamos indo de carona
na garupa leve do vento macio,
que vem caminhando,
desde muito longe...
lá no fim do mar!

Vamos visitar a estrela
da manhã raiada,
que pensei perdida pela madrugada,
mas que escondida,
querendo brincar...

Senta nessa nuvem clara, minha poesia,
anda, se prepara,
traz uma cantiga,
vamos espalhando música no ar!

Olha quantas aves brancas,
minha poesia, dançam nossa valsa,
pelo céu que o dia fez todo bordado,
de raios de sol.

Oh, poesia me ajude,
vou colher avencas, lírios, rosas, dálias
pelos campos verdes,
que você batiza
de jardins do céu...

Mas, pode ficar tranquila, minha poesia!
Pois nós voltaremos,
numa estrela guia,
num clarão de lua,
quando serenar...

Ou, talvez até quem sabe,
nós só voltaremos,
no cavalo baio,
no alazão da noite,
cujo nome é raio...
Raio de Luar.



( letra de Paulo César Pinheiro)

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Vovó mora na nuvem?




(Juvia perguntou à Fernanda se a vovó morava na nuvem ao viajar de avião!)

E eu lhe respondi:

Juvia

Não moro na nuvem branca
nem na estrêla dourada,
tampouco naquele céu
que brilha na noite clara.

Não moro na lua redonda
com sua face de prata
nem passeio na grande onda
com golfinhos de mãos dadas.

Eu moro longe do teu mundo,
e o lugar é muito lindo.
Lá guardo um amor profundo
e também o teu sorriso.

Moro sim, no teu pensamento.
E essa é a mais pura verdade.
Nas lembranças que só o vento
enche um coração de saudade!

sábado, 13 de junho de 2009

A estrada não trilhada

Num bosque, em pleno outono, a estrada bifurcou-se,

mas, sendo um só, só um caminho eu tomaria.

Assim, por longo tempo eu ali me detive,

e um deles observei até um longe declive

no qual, dobrando, desaparecia...



Porém tomei o outro, igualmente viável,

e tendo mesmo um atrativo especial,

pois mais ramos possuía e talvez mais capim,

embora, quanto a isso, o caminhar, no fim,

os tivesse marcado por igual.



E ambos, nessa manhã, jaziam recobertos

de folhas que nenhum pisar enegrecera.

O primeiro deixei, oh, para um outro dia!

E, intuindo que um caminho outro caminho gera,

duvidei se algum dia eu voltaria.



Isto eu hei de contar mais tarde, num suspiro,

nalgum tempo ou lugar desta jornada extensa:

a estrada divergiu naquele bosque – e eu

segui pela que mais ínvia me pareceu,

e foi o que fez toda a diferença.



Robert Frost

quarta-feira, 29 de abril de 2009

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Cilada

Varro todas as pedras
da minha estrada
e as promessas
que se perderam
nas armadilhas
que a vida prepara.

Varro o chão,
arrumo os pratos,
e os versos caem
das minhas mãos
e se espalham
em pedaços.

Deixo as palavras
partirem
sem rumo...
e pousarem
lá longe
em outros mundos.

Que o vento traga
minha alegria
um outro dia.
Pois, afinal,
para que serve essa escrita
se tenho sede de vida?

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Lembranças são pássaros sem asas

Quero ir
para qualquer parte
onde as coisas
não sejam perecíveis.

Quero dormir
na viagem
e curtir
um longo sono.


Um amigo
irá me acordar
e dizer:
"Bom dia".

É para isso
que servem os amigos:
para nos tingir
de cores.

Talvez
eu voe para dentro
de mim mesma
como pássaro sem asas.

Talvez
recorde vivências
que habitam
em outras dimensões.

Talvez
eu lhes diga sim.
Talvez eu lhes diga
não.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Lindas pessoas

Festa no céu

Vi uma estrela voando
com sua cauda enorme.
Achei engraçado de ver,
pensei que estivesse de porre.

Ela dava muitos loopings
fazia mil piruetas,
exibia nos céus seus dotes
e rebolava porreta.

As outras estrelas luzentes
acharam o maior barato
e começaram a imitá-la
dançando por todo lado.

A noite estava bombando
nunca se viu coisa igual
todo mundo no balanço.
O céu virou carnaval.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Olhos de gato



Duas estrelas
que me espreitam
e me seguem
por todo lado.

Duas luzinhas
no escuro
que me fitam
e me despem.

Gato safado
teus olhos dizem
um bocado.

Willian Shakespeare

Perguntei a um sábio
a diferença que havia
entre Amor e Amizade,
ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível
a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas,
a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,
na Amizade compreensão.
O Amor é plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se grande companheira.
Mas quando o Amor é sincero
ele vem como um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de carinho.
Quando se tem um amigo,
ou uma grande paixão,
ambos sentimentos coexistem
dentro do seu coração.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Canção do Tempo

A poesia adormece
tão calmamente em mim.
Minha tristeza arrefece.
O tempo parou por aqui.

Nada na vida é à toa.
Relembro o céu que vivi.
Apenas o sonho repousa.
Um grande amor não morre assim.

Transcedo o momento, afinal
com alegria e espanto.
O vôo ainda persiste
no ritmo do meu canto.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Vibração e Poesia

Sintonizar com a 5ª dimensão é mais fácil. Pois é nosso próximo estágio. Em geral pureza de sentimentos e serenidade são dois requisitos úteis ao ajuste de freqüência. Meditação, cantar de mantras, oração, poesia, são formas de fazer sintonia 5D.
Escrever poesia é um modo atraente de sintonizar. Também a leitura de poesia comprometida com ideais elevados, de beleza, magia e espiritualidade. Tipo Kalil Gibran, Rabindranat Tagore ou Rainer M. Rilke, Isto eleva o pensamento, ajuda a descolar um pouco desta parafernália, este torvelinho social, este caos urbano que nos ameaça, dirigindo a alma para uma capacidade de enxergar no alto da montanha, ajudando a discernir os caminhos.
Este pensamento de 5ª dimensão acalma as emoções, traz um sentimento de alívio. Assim começa o treinamento para tornar-se um viajante multidimensional. Vivendo na 3D, saber focar a 5D para seguir com este foco na vida, a fim de realizar mutações na freqüência que ajudem a fazer uma passagem suave para a vida tempo-espacial da 5D. Os monges Zen, por exemplo, perceberam que a consciência expandida é a freqüência perfeita do ser. Na 3D há muita estática, muita dissonância. Na verdade não há trabalho mais urgente que ajudar as pessoas a relaxar, aprendendo a viver em estado meditativo.
Quem consegue o domínio desta consciência 5D, torna-se muito seguro de si, muito exato. Aprende a desviar-se das situações que o constrangeriam a uma sintonia 3D, tais como discussões, auto-piedade, ambientes impuros, substâncias tóxicas. E volta-se ato contínuo para uma lembrança básica que naturalmente eleva a consciência através da 5D e até mais além. É o pensamento de que Só Existe Deus.


(Targon Darshan)

sábado, 17 de janeiro de 2009

Ode ao gato ( Pablo Neruda)

Os animais foram imperfeitos,
Os animais foram imperfeitos,
compridos de rabo, tristes de cabeça.
Pouco a pouco se foram compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, vôo.
O gato,
só o gato
apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.

O homem quer ser peixe e pássaro
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato
do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana
viva,
da noite até os seus olhos de ouro.
Não há unidade como ele,
não tem a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa só
como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma só ranhura
para jogara as moedas da noite
Oh pequeno imperador sem orbe,
conquistador sem pátria
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.
Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insígnia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma
na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e
pertence
ao habitante menos misterioso,
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gatos, companheiros,
colegas,
discípulos ou amigos
do seu gato.
Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica,
o gineceu com os seus extravios,
o pôr e o menos da matemática,

os funis vulcânicos do mundo,
a casaca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos tem números de ouro.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Criança de Gaza

Vêm comigo.
Canta, dança, corre...
coloca o manto da alegria.

Deixe tua imaginação voar com as andorinhas
Ressucitas os valores errados e sonhe.
Sonhar?

Nunca podereis saber porque teus sonhos
dormem nas pedras.
Porque não tocaste o mistério da vida.

Vou te contar criança,
sobre as ondas que quebram na areia,
sobre a mágica esperança,
sobre o colorido das flores.

É tempo de cinzas. Desencantos.
Só os seres humanos maculam
o amor de Deus. E no entanto,
Ele se encontra em toda parte.

Voe no vasto céu como passarinho.
Nem pergunte onde irás.
Só assim, desfarás fronteiras,
e o teu caminho será de paz.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Poesia, o nada que é tudo ( Affonso Romano de Sant'Anna)

Certa vez, o escritor argentino Santiago Kovadlof narrou que era adolescente quando entrou na sala de aula um professor que começou dizendo: “Quero lhes comunicar que sou professor de filosofia. E que filosofia não serve para nada”. Isto posto, diante da perplexidade dos alunos, acrescentou: “Peço-lhes apenas alguns minutos de atenção que vou lhes explicar o que é o ‘nada’”. Ao final da aula, diz Kovadlof, o seu futuro estava decidido: seria professor de “nada”, ou seja, de filosofia. Pois com a poesia ocorre algo semelhante. Dizem que a poesia não serve para nada. E, no entanto…

Quando lhe disserem que a poesia não tem mais lugar nesse mundo dos diabos (porque no dos deuses sempre tem), não acredite. Quando lhe disserem que no planeta Bush continuam erguendo muros para separarem homens e culturas, observe que a poesia ainda pode congregar vozes e esperanças. E se eu tivesse dúvidas sobre isto, aqui nesta Feira de Livros de Frankfurt, onde as notícias , em geral, giram em torno de cifras de milhões, tanto de leitores de tal ou qual autor ou, então, de quanto o romancista X ou Y recebeu de adiantamento por um livro ainda não escrito, nesta feira pragmática e globalizada, a poesia abriu um clareira nos espessos interesses da selva capitalista.

É que, no meio de tantos estandes onde os livros, como num esquife, aguardam que alguém lhes dê vida com o sopro de sua leitura, o “Internazionales Zentrum” instalou um auditório onde poetas convidados se apresentam. E preparou uma jornada especial chamada de “A noite dos 1001 poemas”, onde oito poetas selecionados, da China ao Iraque, da Argentina à Angola, do Marrocos à Guatemala, do Canadá ao Brasil, dizem seus poemas. Enquanto falamos, aparece num telão a tradução para o alemão. E após uma espécie de “talk show”, em que cada um responde questões sobre sua vida e obra, atores alemães fazem a leitura final de mais poemas de cada autor. São cinco horas ininterruptas de poesia. As pessoas passam, param e ficam ouvindo esses estranhos seres caídos de outra galáxia.

O primeiro a apresentar-se é Humberto Ak’abal. Ergue-se com sua cabeleira de índio maya, com uma camisa branca com bordados coloridos e alguns colares no pescoço, e entoa um poema-hino, como o faziam os shamans de sua tribo, desde os tempos imemoriais do canto cosmogônico maya - o Popol Vuh. De repente, na moderníssima Frankfurt, cheia de prédios de aço e vidro, estamos em torno da fogueira acesa da palavra. E assim, até o final, quando o poeta marroquino Abdalla Zorika e sua esposa, a cantora Touria Hadrouni, sem acompanhamento instrumental, com a pureza tocante de sua voz, arranca das margens milenares do Mediterrâneo a lembrança de que poesia essencialmente é canto e palavra.

Durante a apresentação dos colegas, eu tentava olhá-los com a estranheza que se tem que ter nos olhos quando queremos entender algo em toda a sua “estranhidade”. Por exemplo, aquele poeta chinês Xiao Kaiyn lendo seus textos e eu imaginando-o, lá nos arredores de Pequim, juntando seus caracteres para expressar sentimentos e perplexidades, tanto quanto esse iraquiano Sangon Bouloes ou a poeta da Indonésia, que ouvi ontem, assim como o francês-espanhol Claude Esteban, que noutra oportunidade se apresentou. Ali está Ana Paula Tavares, falando de sua sofrida Angola, Carmen Boulosa narrando a tragédia que viveu naquele 11 de setembro em Nova York, e Todd Swift, irrequieto e criativo poeta canadense, convertendo guerra e história em poesia. E, no entanto, dizem que a poesia não interessa a ninguém, que os poetas não têm nada que fazer nesta cruel sociedade eletronicamente bilionária e humanamente miserável

Nisto tudo, algo intrigante e mágico. Mesmo quando os poemas eram falados numa língua que não se entendia, uma imponderável comunicação cruzava o ambiente. A voz, ou seja, o fluir vibrante de uma certa melodia e ritmo; o corpo — mesmo os pequenos gestos intencionais e involuntários — ou o brilho no olhar constituíam parte de um texto expressivo. Isto lembrava-me de algo narrado por Chomsky- esse cientista da linguagem que narrou que um certo linguista, assistindo à leituras de poemas em línguas que não conhecia, era capaz de dizer quais eram os melhores e piores poemas e até a apontar quem seria o vencedor.

Pode até haver um certo exagero em quem narrou-me essa história, mas isto lembra-me Alfonso Reyes e seu célebre estudo sobre as “jitanjáforas”, nome que deu a esses poemas que são jogos de palavras aparentemente ininteligíveis, mas que acabam por exprimir e/ou comunicar alguma coisa, tanto nos rituais quanto no dia-a- dia.

Minha cabeça tenta entender essa coisa intrigante. Se os editores dizem que poesia não vende, que poesia não rende, que ninguém compra poesia, que poesia não se negocia nas bolsas de valores, então, Senhores do Conselho de Sentença, dizei-me vós, por que cresce cada vez mais o número de poetas sobre a terra? Se a poesia não serve para nada, e se “lutar com palavras é a luta mais vã”, porque milhões de poetas recomeçam essa luta “mal rompe a manhã”?

Na verdade, na verdade vos digo: há mais poetas hoje que ontem, e amanhã haverá mais poetas que hoje. E o caso da poesia é o mesmo da arte em geral. A poesia, como a arte, não morre nunca, porque mais que um gênero literário, é uma “função” da mente humana. Ela dá voz a algo que nenhuma outra arte ou forma de expressão pode expressar por ela. E algumas, não poucas, mas milhões e milhões de pessoas têm necessidade da poesia como uma “segunda língua”. Por isto cantam, por isto escrevem, por isto pegam seu dinheirinho e editam seus livros ou saem mundo afora falando seus poemas. E ao contrário da maioria das outras artes, que se transformaram predominantemente em negócio, a poesia vive uma situação ambígua: porque a palavra do poeta não se converteu em “commodity” e produto descartável que segue a moda e o mercado, ela guarda uma autenticidade e uma independência que a singularizam.

Retomemos aquela afirmativa inicial de que a poesia e a filosofia não servem para nada. No entanto, como já o disse em outro texto e contexto, reinventando as leis naturais de Lavoisier:

“Na poesia nada se perde. Na poesia o nada se cria e o nada se transforma”.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Feliz Ano Novo

A tarde está quente. O sol se põe e a lua aflora. Ao longe as estrelas sorriem porque um ano novo se inicia. Os céus se alegram e as pessoas fazem planos, cheias de esperança, e sonham
como crianças. Jogam flores no mar, convocam todos os deuses, aliados invisiveis que nutrem a
realidade com sua magia.
Nesta noite celebramos o agora e buscamos o Graal que está em gestação no mundo encantado de nossa imaginação.
Casais brincam, colocam antenas de Ets na cabeça, fazem pose e tiram fotos. Quem se importa
com aparências? Hoje é festa!
De repente penso se essa antena atrai toda a energia da felicidade, se ela cura nossos ferimentos, se tem o poder de juntar nossos eus partidos e abrir nosso coração. E, contrariando
minha razão, que a acha muito ridicula, num gesto de coragem a coloco. Minha mão, ainda revoltada com o uso da força, treme. Me olho no espelho que tenho na bolsa. Meu olhar está alegre e abro um largo sorriso. Claro, se sou energia, não preciso de nenhuma antena! E a devolvo à sua dona. A partir de agora, posso atrair toda a felicidade, simplesmente com o meu
olhar!
E selo um compromisso mágico comigo mesma.